quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Desafios da vida de intérprete- Desvalorização da profissão

A vida de intérprete não é nada fácil.  Talvez alguns pensem que é muito fácil apenas estar lá e ficar traduzindo o que outros dizem. Que não é preciso preparação.  Que é só chegar e traduzir. Mas não... não é fácil ser intérprete, de nenhuma língua, mas tratando-se da Libras, acho pior.

Por quê? Porque não é uma profissão valorizada.  Só reconhece o valor de um intérprete de Libras quem precisa de um.  E quem precisa representa uma minoria da sociedade.

As leis voltadas para a área da surdez são muito novas. E o problema já começa ai.  Vivemos em um país onde as leis são criadas, sem que sejam criadas estruturas para sua implementação.  A lei que reconhecia a Libras no território nacional foi sancionada em 24 de abril de 2002, nela já garantia o seguinte direito ao surdo:

Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.
Art. 3o As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.
Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente.


Depois veio o decreto 5.626 que regulamentou a lei, saiu em 22 de dezembro de 2005.  E o intérprete? Alguém sabe como ele estava?
Eu digo como eu estava. Comecei como intérprete em 2009. A profissão não estava regulamentada.  Mas a lei para a difusão de sinais já existia. Então me diga qual a coerência disso. Eu recebia na época para trabalhar na parte da manhã R$ 500,00, dos quais R$100,00 pagava a passagem ao trabalho. Sem férias, sem 13º salário, sem direito a nada.

Aí, enfim, em 2010 a profissão foi regulamentada pela lei 12.319. Ótimo, tudo muito bonito, já teríamos direitos, carteira assinada, que alegria! Mas a profissão continua sendo desvalorizada, e chega a ser uma ofensa.

Eu vim aqui escrever sobre isso porque acabo que ver sobre um concurso público para intérprete. Queria me inscrever, o salário é de pouco mais que R$ 1.100,00. Não achei ruim, até verificar a carga horária: 40 horas semanais. Será que é isso que merece uma pessoa que se dedica a uma profissão? Que lida com necessidades especiais? Que precisa aprender constantemente?

Não acho que é uma profissão melhor que as outras. Só acho que aqui todos nós somos desvalorizados.
Acham que temos que viver com pão e TV, porque nem o circo dá pra pagar.

"A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte"

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Depois venho falar sobre o Prolibras. Apesar da minha pós incluir ensino e tradução, pretendo me inscrever pra instrutora. Estou planejando fazer posts voltados para as matérias do Prolibras para nos prepararmos juntos.

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